O papel que a escola desempenha na formação de um jovem vai muito além de prover saberes tradicionais como matemática, português, história ou geografia. Ela também representa extrema influência na vida dos estudantes: a maioria deles considera a escola como a instituição mais importante para o aprendizado (60%) e formação de suas identidades (56%), segundo pesquisa Juventudes e Conexões 2019.
Os espaços educacionais possuem também o compromisso de propagar aprendizados e valores de responsabilidade social e cidadania. Em audiência pública no ano passado, especialistas da área ambiental foram na Câmara dos Deputados defender uma reformulação do ensino nas escolas brasileiras para ampliação da educação voltada ao meio ambiente em seus currículos, a fim de promover nos jovens uma maior consciência ecológica.
Nas Casas Familiares do Baixo Sul da Bahia, a preocupação ambiental sempre esteve presente. Instituições parceiras na aplicação do PDCIS, Programa Social da Fundação Norberto Odebrecht, essas escolas de ensino médio integrado ao técnico possuem em suas matrizes curriculares ensinamentos voltados à agricultura e à realidade rural dos estudantes, com olhares atentos à sustentabilidade.
Assim como as escolas convencionais, administram disciplinas da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), mas possuem como diferencial a metodologia educacional da Pedagogia da Alternância. As alternâncias – que correspondem a uma semana completa de aulas teóricas e práticas na escola - compõem diferentes áreas de conhecimento, e as Casas Familiares as administram adaptadas à formação técnica específica que cada uma delas oferece, seja em agropecuária, agronegócio ou florestas.
Todas as 45 alternâncias ministradas nas Casas Familiares possuem, entretanto, algo em comum: em suas bases, são inerentes pautas que dialogam com a conscientização ambiental, incentivando os jovens a pôr em prática a preservação ecológica em suas propriedades familiares e a aproveitar o que a natureza tem a oferecer economicamente sem prejudicá-la.
Alguns exemplos de alternâncias lecionadas são “Extensão e Desenvolvimento Rural Sustentável”, “Manejo e Conservação do Solo” e "Agroecologia”, nesta última aprofundando a aprendizagem de técnicas de cultivo menos impactantes ao meio ambiente, promovendo um modelo de agricultura sustentável. A agroecologia, inclusive, já foi apontada pela Organização das Nações Unidas (ONU) como uma das soluções para restabelecer uma relação mais equilibrada com os recursos naturais do nosso planeta.
Para Thales Lima, Diretor da Casa Familiar Rural Presidente Tancredo Neves (CFR-PTN), a educação ambiental não é só mencionada, ela é vivida pelos jovens durante os três anos de formação. Além disso, cita como é integrada de maneira transversal ao currículo escolar e contextualizada para o dia a dia dos estudantes. “É normal me perguntarem, ‘professor, por que eu estou estudando regra de três?’ e na prática, vou mostrar a eles que a teoria vai ajudá-los a formular uma ração, a trabalhar a formulação de adubo. Isso torna o aprendizado muito mais fácil, porque eles conseguem ver a funcionalidade daquele assunto”, afirma.
Integração com os ODS
Reforçando o seu compromisso para uma aprendizagem voltada ao cuidado com o meio ambiente, as Casas Familiares parceiras na execução do PDCIS fazem parte do Programa das Escolas Associadas (PEA), criado pela UNESCO. Um dos requisitos para integrar o programa - que reúne instituições de todo o mundo -, é a contribuição ativa das escolas para a conquista dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU (ODS), que possui como uma das metas a garantia de que todos os alunos adquiram as habilidades necessárias para promover o desenvolvimento sustentável.
“Nós temos o dever de praticar atividades que sejam ecologicamente sustentáveis, socialmente justas e economicamente viáveis. Além disso, buscamos aplicar as metas dos ODS e conscientizar as comunidades através de ações multiplicadoras, disseminando a importância da preservação ambiental”, relata Yasmin Aiko Watanabe, aluna do terceiro ano da Casa Familiar Agroflorestal (CFAF).
Fortalecendo o papel dos jovens como protagonistas sociais, as Casas Familiares impulsionam os estudantes a compartilharem conhecimentos através de seminários rurais realizados em suas comunidades. Tailã Mendes, coordenadora pedagógica da Casa Familiar Rural de Igrapiúna (CFR-I), conta que uma pesquisa participativa é aplicada para identificar os possíveis pontos de melhoria nas regiões. “Já aconteceu de 90% dos moradores de uma comunidade relatarem a necessidade de entenderem mais sobre os impactos do uso do agrotóxico, prática ainda muito comum. Então a partir desse dado, o aluno que aplicou a pesquisa apresenta um seminário em cima do tema”, diz.
Desta forma, todo o trabalho de educação ambiental proporcionado nas Casas Familiares para tornar os estudantes cidadãos responsáveis tem o alcance ampliado, e promove um impacto real não só na vida destes jovens como na sociedade como um todo. “A conscientização ambiental e a prática da sustentabilidade são fundamentais para garantir o equilíbrio ecológico, e são a forma mais sólida de criar um futuro com maior qualidade de vida para as próximas gerações”, afirma Yasmin.