Os estudos de Mailane dos Santos podem ter finalizado na Casa Familiar Rural de Igrapiúna (CFR-I), mas os seus sonhos estão apenas no início do processo para serem realizados. Moradora da comunidade da Baixa de Areia, no município de Igrapiúna, Baixo Sul da Bahia, a jovem de 18 anos se formou em dezembro como técnica em Agronegócio.
Feliz por terminar o ensino médio integrado ao técnico e alçar novos voos, ao mesmo tempo ainda se sente apegada à Casa Familiar que, segundo ela, representa um lugar de paz. “Na CFR-I nós esquecemos do mundo. Lá temos amigos, e os professores não são só professores. Eles também são amigos, que sempre tentam ajudar ao máximo qualquer problema nosso que surja. Isso vai deixar saudade”, afirma.
Após os três anos que teve acesso à educação de qualidade, Mailane ressalta que sua entrada na instituição mudou quase tudo em sua vida e da sua família. “Antes a gente tinha menos condições, porque minha mãe não tem um trabalho fixo, e depois a escola nos ajudou. Ganhamos kit de higiene pessoal, com absorvente, por exemplo. Além disso, a nossa renda também aumentou”, conta.
O aumento de renda que a jovem menciona é proveniente dos Projetos Educativo-Produtivos (PEPs), atividades desenvolvidas pelos alunos das Casas Familiares para ampliar suas competências nas ciências agrárias. O primeiro PEP que Mailane se responsabilizou foi para as culturas de mandioca, milho e feijão, além de hortaliças cultivadas na propriedade da sua família. Essa tarefa é auxiliada pelos monitores das escolas, professores que acompanham os alunos para que aprendam e tenham uma produção de qualidade.
O segundo PEP que desenvolveu é de avicultura, para criação e venda final de 100 pintos, número dividido em três fases. Atualmente, Mailane está na terceira fase, onde cria 34 pintos. Além de estimular sua autonomia e protagonismo, com a comercialização desta produção, a renda familiar de Mailane consegue ser ampliada. “Com o dinheiro que eu ganho dos PEPs, uma parte eu tiro para ajudar dentro de casa, e outra eu guardo para o futuro. Quero fazer faculdade e tenho em mente montar o meu próprio negócio”, diz.
Gerir uma mini fábrica de chocolate é uma vontade da jovem desde pequena: “Eu sempre gostei do mundo do chocolate, brincava de fabricar na terrinha com minhas primas. Quando eu fui para a Casa Familiar, fiz um estágio e realizei o meu sonho de começar a aprender os processos do cultivo do cacau. Quero produzir chocolate para vender”, ressalta.
MELHORES CONDIÇÕES
A casa da família de Mailane faz parte das 46,3% das moradias brasileiras que possuem algum tipo de privação de saneamento básico, conforme pesquisa realizada pelo Instituto Trata Brasil em parceria com a EX ANTE Consultoria Econômica e o Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS). O estudo analisou as privações a partir de cinco categorias, das quais todas atendem a realidade da moradia da jovem: privação de acesso à rede geral de água; frequência de recebimento insuficiente de água potável; disponibilidade de reservatório; privação de banheiro; e privação de coleta de esgoto.
Pensando em apresentar soluções individuais de saneamento para contornar a falta deste serviço em propriedades rurais através da rede pública, as Casas Familiares, parceiras na aplicação do Programa de Desenvolvimento e Crescimento Integrado com Sustentabilidade (PDCIS), da Fundação Norberto Odebrecht, passaram a implementar Tecnologias Sociais que auxiliam na melhoria das condições de vida dos beneficiários.
Um exemplo são as Fossas Sépticas Ecológicas, sistema composto por um conjunto de tanques plásticos interligadas por tubos que funcionam a fim de adequar o esgotamento sanitário domiciliar. Até pouco tempo, a casa de Mailane não tinha banheiro em sua área interna. “Com o dinheiro da agricultura, eu e minha mãe construímos o banheiro”, conta a jovem. Quase tudo está pronto para o seu uso, faltando apenas a implantação da Fossa Séptica para o tratamento de esgoto primário. A jovem também é beneficiária de outra Tecnologia Social derivada do PDCIS: o sistema de Armazenamento e Tratamento de Água, que auxilia no acesso a esse recurso de forma encanada e tratada.
Apesar de todos os desafios que enfrenta, o sorriso largo no rosto é a marca registrada de Mailane, que reconhece que sempre precisou lutar em sua vida. “Eu vou ser uma menina ainda mais forte e guerreira. Sempre vou manter a cabeça erguida, sempre continuarei lutando pelo que quero”, diz, confiante de que se depender de si mesma e de aproveitar as oportunidades que recebe, a sua trajetória sempre será agraciada com conquistas.