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21h19

Edição 120 - O ciclo se fecha, o mercado se abre

No DIS – Baixo Sul, cadeias produtivas da Aqüicultura, Mandioca e Palmito já realizam as etapas de produção, beneficiamento e comercialização.

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Despesca da tilápia - Cadeia Produtiva da Aqüicultura

Cláudio Lovato Filho ◦ texto

Eduardo Moody ◦ fotos

É um movimento frenético de homens e pequenas embarcações. O trabalho, iniciado por volta das 10 horas da noite anterior, invade a madrugada e só terminará no começo da manhã. No modesto terminal marítimo de Torrinhas, no Estuário de Cairu, são descarregadas quase 5 t de tilápias criadas em tanques-rede. As pessoas, tentando proteger-se das pancadas de uma chuva fria, colocam os peixes nos tonéis com gelo, e depois as caixas com os peixes no caminhão-frigorífico da fábrica beneficiadora, localizada em Ilhéus. Os semblantes expressam uma mistura de cansaço e alegria. Em breve, aquele pescado chegará às gôndolas em Salvador, fechando um ciclo iniciado há cinco meses. Muitos estão ali só para ajudar, solidários, enquanto aguardam que seus peixes estejam prontos para ser retirados da água.

Os homens que realizam o trabalho de despesca em Torrinhas são da Cooperativa Mista de Pescadores, Marisqueiros e Aqüicultores do Baixo Sul. A Coopemar, que congrega atualmente 60 criadores, é o coração da Cadeia Produtiva da Aqüicultura, do Programa de Desenvolvimento Integrado e Sustentável do Baixo Sul da Bahia - DIS Baixo Sul, o qual inclui também outras duas cadeias produtivas: da Mandioca e do Palmito.

A Cadeia Produtiva da Aqüicultura, assim como as outras duas, é um instrumento para a quebra do ciclo da pobreza no Baixo Sul, região com 11 municípios e 270 mil habitantes. A criação de tilápias em tanques-rede é uma alternativa à pesca extrativista, suficiente, quando muito, para a subsistência. São 22 famílias envolvidas diretamente na produção. Elas estão nas comunidades de Torrinhas, Canavieiras, Tapuias e Alves, pertencentes ao município de Cairu. O objetivo é gerar renda mensal mínima de R$ 600 por família. As cerca de 5 t de peixe retiradas do estuário na despesca da madrugada de 3 para 4 de agosto renderão 1,5 t de filé para comercialização na rede de supermercados do grupo Wal-Mart, parceiro social do DIS Baixo Sul.

Bruno Falcão, Engenheiro Civil que ingressou na Construtora Norberto Odebrecht há sete anos, assumiu no começo de 2005 o desafio de ser Líder da Cadeia Produtiva da Aqüicultura. “Estamos trazendo para cá a visão empresarial. Nossos instrumentos são a educação e o foco em resultados e na auto-sustentabilidade.” Os objetivos de gerar trabalho e renda, preservar o meio ambiente, fortalecer a aqüicultura familiar e estimular o cooperativismo vêm sendo gradativamente conquistados.

“Hoje trabalhamos juntos”, afirma o Técnico Comunitário Fábio Pereira Ribeiro Nepomuceno, 22 anos, sócio fundador da Coopemar. “Estamos nos acostumando ao processo produtivo e nos capacitando. Quero um dia ter meu próprio negócio. Hoje existe um pensamento de mudança, de melhoria para todos.” Fábio quer ser Engenheiro de Pesca.

“Este é o futuro deles: estudar, adquirir conhecimento, crescer”, diz Roque Fraga, Biólogo Marinho e Responsável Técnico pela Cadeia Produtiva da Aqüicultura. Roque é uma referência na comunidade. Seu envolvimento no projeto é tamanho que decidiu morar em Torrinhas, numa casa a poucos metros do pequeno terminal. Os frutos de seus ensinamentos podem ser percebidos nas atitudes e nas palavras dos que compartilham o dia-a-dia com ele. “O pescado está diminuindo no estuário. Antes havia extrativismo, e só. Hoje há extrativismo com cultivo”, diz Luciano Freitas, 26 anos, Presidente da Coopemar.

Cadeia Produtiva da Mandioca

Diferentemente das cadeias produtivas da Aqüicultura e do Palmito, que introduzem novas culturas, a Cadeia da Mandioca torna possível a reestruturação de um cultivo consolidado. A Cooperativa dos Produtores Rurais de Presidente Tancredo Neves (Coopatan), que conduz a Cadeia Produtiva da Mandioca, reúne 500 pessoas e 33 associações rurais, cada uma delas com 35 integrantes, em média. São em torno de 1.800 famílias beneficiadas, em oito municípios. “No passado, houve tentativas malsucedidas de implantação de cooperativas aqui na região. A Coopatan trouxe uma nova orientação, voltada para o melhor aproveitamento das propriedades e a diminuição da pobreza”, salienta Josias Nunes, Presidente da cooperativa. “Ela trouxe novos tempos.”

Região do Baixo Sul da Bahia

Desde o início de 2005, liderada por Jorge Gavino, engenheiro que ingressou há 14 anos na Construtora Norberto Odebrecht, a Cadeia Produtiva da Mandioca está conseguindo mudar paradigmas. “Trabalhamos para as famílias, com a finalidade de fazê-las aumentar sua produtividade e melhorar sua qualidade de vida”, ressalta Jorge. “Antes, porém, é preciso conquistar a confiança delas, apresentando fatos concretos e tendo sensibilidade para respeitar sua cultura.”

Cadeias Produtivas

Ao oferecer acompanhamento e orientação, a Coopatan vem conseguindo elevar os índices de produção na região. “Há casos de agricultores que aumentaram sua produtividade de 8 a 9 t/ha para 25 t/ha. Para começar a dar lucro, a mandioca deve ter uma produtividade superior a 20 t/ha. Já testamos 119 tipos de mandioca, com apoio da Embrapa. Não se pode errar com pessoas que já sofreram tanto”, argumenta o Engenheiro Agrônomo Marcelo Abrantes, Responsável Técnico pela Cadeia Produtiva da Mandioca. “Há uma mudança de concepção em curso aqui, decisiva para que se abandone a idéia de que produzir mandioca é coisa de pobre.”

No fim de agosto entrou em operação plena a fábrica de farinha da Coopatan. Instalada em uma área de 4 ha adquirida pela Coopatan com recursos da Fundação Odebrecht, tem capacidade de processar 60 t/dia de raízes, que geram 20 t/dia de farinha. O produtor Genival Meneses de Melo é o líder da fábrica, na qual trabalham 40 pessoas. “Trabalho com mandioca desde criança e gosto de desafios. Com a fábrica, vamos ter melhorias para todos. E só é bom se é bom para todos”, diz Genival.

Resultado de um investimento de R$ 650 mil, a fábrica de farinha da Coopatan dispõe de avançada tecnologia e tirará de cena a figura do atravessador, pois a etapa de beneficiamento estará integrada às de produção e comercialização. A produção da Coopatan tem como destino os supermercados do grupo Wal-Mart e a Empresa Baiana de Alimentos - Ebal. A farinha tem cinco marcas comerciais: Itabaina, Primeira da Bahia, A Boa, Recôncavo e Farofinha da Bahia.

O Técnico Agrícola Marivaldo Ferreira da Silva, líder em formação na Cadeia Produtiva da Mandioca e produtor em Tancredo Neves, destaca a principal vantagem da mudança de realidade pela qual sua região vem passando: a possibilidade de as pessoas se fixarem no campo. “A vida aqui está mudando.” Marivaldo é um símbolo da evolução dos patamares de produtividade em Tancredo Neves: alcançou, em sua propriedade, a marca de 42 t/ha, enquanto a média brasileira é de 18 a 20 t/ha.

O apoio da Embrapa tem sido importante para as conquistas da Cadeia Produtiva da Mandioca. No Campo Demonstrativo de Tecnologias para Cultivo da Mandioca, os pesquisadores realizam estudos para os produtores, sobretudo avaliando a produtividade das variedades. “É um laboratório a céu aberto”, diz Jorge Gavino. Pedro Mattos e José Raimundo Ferreira Filho, pesquisadores especializados em cultivo, dizem que, com o trabalho que vêm desenvolvendo, encontraram a possibilidade de colaborar com 32 comunidades. “Temos feito estudos utilizando câmaras de propagação rápida e bancos de sementes”, relata Pedro. “Os resultados têm sido surpreendentes”, ele acrescenta. José Raimundo acentua: “Buscamos, também, orientar os produtores sobre manejo do solo, contenção de encostas e combate a pragas”.

Cadeia Produtiva do Palmito

Na Cadeia Produtiva do Palmito, os produtores integram a Cooperativa de Produtores de Palmito do Baixo Sul (Coopalm), cuja atuação se estende hoje a 10 dos 11 municípios da região e estimulou 105 famílias a implantarem a cultura do palmito. Destas, 35 já estão na Coopalm; as demais passarão a fazer parte da cooperativa até o fim do ano. A maioria dos produtores da Coopalm se concentra nos municípios de Camamu e Igrapiúna.

A Biofábrica de Plântulas, que integra a cadeia produtiva, adquire sementes de pupunha lisa (sem espinhos) a serem utilizadas pelos produtores. A tecnologia de produção foi trazida do Equador, o maior produtor mundial de palmito cultivado. A pupunha, em comparação às outras palmeiras das quais se origina o palmito – açaí e juçara –, é a que oxida menos, perfilha mais (o que garante a perenidade do negócio) e proporciona retorno mais rápido do investimento, entre outras características.

“Hoje sabemos quanto vamos ganhar”, afirma Francisco Rodrigues dos Santos, membro do Conselho de Administração da Coopalm e produtor na comunidade de São Benedito, em Nilo Peçanha. “Posso levar o aprendizado da Cadeia Produtiva do Palmito para as minhas outras culturas. Está tudo na ponta do lápis. Posso me planejar.”

O Engenheiro Agrônomo Adailton Barbosa, Técnico Responsável na cadeia produtiva, relata que os produtores vêm se dedicando cada vez mais ao planejamento do cultivo para obter o máximo de rentabilidade. Até algum tempo atrás, isso seria impensável. “Hoje eles pensam em margem de lucro e fazem poupança”, comemora Adailton. “Há uma mudança de atitude acontecendo, trazendo o fim do individualismo e do imediatismo.”

Formação técnica e empresarial, foco no resultado e renda constante formam a base da atuação da Coopalm. “Os produtores da região estão se dando conta de que o resultado do grupo influencia o resultado de cada um”, observa a Assistente Social Emile Machado, especialista em cooperativismo e Líder da Cadeia Produtiva do Palmito.

“Visão empresarial, capacitação técnica e consciência cooperativista estão transformando a realidade.”

A persistência para quebrar a resistência ao novo e a criatividade para comunicar com eficácia são instrumentos essenciais na atuação da equipe de Emile. “Tentamos contribuir para o desenvolvimento integral das pessoas. E nesse processo nos envolvemos com elas. É um sentimento de estar construindo algo importante, no nosso caso a geração de trabalho e renda. Passamos a ter compromisso com as pessoas.”

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