Comunicação

21h47

Edição 118 - Por uma nova educação rural

Ignacy Sachs avalia o DIS – Baixo Sul, programa que tem a participação da Fundação Odebrecht, e defende a busca de uma educação rural voltada para o desenvolvimento sustentável.

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José Enrique Barreiro ◦ texto

Almir Bindilatti ◦ fotos


O professor Ignacy Sachs, Diretor da École des Hautes Études en Sciences Sociales, de Paris, defendeu a educação no meio rural como fator decisivo para o desenvolvimento sustentável do Brasil. Em palestra promovida pelas entidades que realizam o Programa de Desenvolvimento Regional Integrado e Sustentável do Baixo Sul – DIS Baixo Sul, Ignacy Sachs disse que, para isso, “é preciso repensar o papel da escola, que, além de ensinar a ler, escrever, transmitir conhecimentos e formar cidadãos, deve ainda incentivar o autogoverno dos alunos e transmitir a cultura do desenvolvimento sustentável”.

Nascido na Polônia, Ignacy Sachs veio para o Brasil no período da Segunda Guerra Mundial. Formou-se em Economia no Rio de Janeiro e fez doutorado na Índia. É autor de mais de 40 livros, vários deles sobre desenvolvimento sustentável.

Sua palestra, realizada em 28 de março, no Praia do Forte Eco-Resort, a 50 km de Salvador (BA), contou com a presença de Patrus Ananias, Ministro do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, e Norberto Odebrecht, Presidente do Conselho de Curadores da Fundação Odebrecht, além de representantes do Governo do Estado da Bahia, da Associação dos Municípios do Baixo Sul (Amubs) e do Instituto de Desenvolvimento Sustentável do Baixo Sul (Ides), entidades que participam do programa DIS - Baixo Sul.

Ignacy Sachs fez uma avaliação geral do DIS – Baixo Sul. Ele destacou a escolha da escala (microrregião) e a conectividade com outros atores sociais locais, como o poder público (em diversos âmbitos), a Amubs, o Ides e os parceiros especializados em ciência e tecnologia. Destacou também a integração promovida pelo programa: “Desenvolvimento rural integrado significa que diferentes tipos de produção se relacionam entre si e se articulam com o setor de serviços e o agronegócio”.

Declarando-se “em sintonia com o DIS – Baixo Sul”, Ignacy Sachs lembrou que “agora é preciso ir além das atuais cadeias produtivas e multiplicar o projeto em outras microrregiões brasileiras”. Ele incentivou a continuidade do cooperativismo e a busca de formas não-ortodoxas de educação profissionalizante pós-primário. No fim de sua avaliação, chamou a atenção para o papel da comunidade, beneficiária final de todos os esforços do programa. “A comunidade precisa estar preparada para atuar e isso só pode ser feito com educação rural de qualidade.”

Patrus Ananias destaca papel da família  

Após a palestra de Ignacy Sachs, o Ministro Patrus Ananias fechou o encontro com uma rápida apresentação. Ele destacou, entre outros temas, a necessidade de resgatar o verdadeiro papel da família para que o desenvolvimento sustentável brasileiro tenha êxito.

O Ministro disse que ele e sua equipe têm se debruçado sobre temas cruciais para o desenvolvimento social e colocou alguns deles para reflexão da platéia: como vencer os entraves burocráticos que impedem a agilização e mesmo a realização de bons programas sociais? Como multiplicar experiências bem-sucedidas, como a do Baixo Sul da Bahia, respeitando as diversidades regionais? Como construir modelos alternativos de desenvolvimento social que ultrapassem o contexto bipolarizado que confronta o agronegócio e a reforma agrária? Como conciliar programas estruturantes com programas emergenciais?

Patrus Ananias disse que o trabalho que está sendo feito em seu ministério tem como foco estabelecer pontos de convergência: “Procuramos construir pontes entre todos os atores sociais, tendo sempre a família como núcleo de coesão e irradiação de políticas emancipatórias e emergenciais”. 

Em entrevista a Odebrecht Informa, o professor Ignacy Sachs diz que, entre as principais tarefas do Brasil, está a de melhorar as condições econômicas e sociais no meio rural.

Odebrecht Informa - Quando se fala em desenvolvimento sustentável, fala-se exatamente de que?

Ignacy Sachs - Desenvolvimento é essencialmente um conceito ético, que envolve uma dupla solidariedade: com a geração presente e com as gerações futuras. Quando falamos em desenvolvimento sustentável estamos falando em três condições que devem coexistir: desenvolvimento social, especialmente com a criação contínua de oportunidades de trabalho decente; responsabilidade ambiental, fazendo bom uso da Natureza e garantindo que os recursos renováveis se renovem; e economia com ritmo regular de produção e distribuição, que sustente as duas condições anteriores.

OI - Como o Brasil se situa hoje em relação ao desenvolvimento sustentável e quais as suas principais tarefas nessa direção?

IS - O Brasil, apesar de ser um dos países mais privilegiados do mundo em recursos naturais, possui uma das maiores dívidas sociais do planeta. Por isso, sua tarefa mais urgente é a redução das desigualdades e a eliminação da pobreza. E o passo decisivo para isso é a criação de oportunidades de trabalho dignas.

OI - Como gerar os novos postos de trabalho de que a economia precisa para amparar o desenvolvimento sustentável e dar-lhe regularidade?

IS - Sabemos que a indústria moderna não gera muitos empregos diretos. Onde vamos então gerar as novas oportunidades de trabalho? O primeiro caminho são as redes universais de serviços sociais, que atuam diretamente no bem-estar da população, a exemplo dos serviços de saúde, de educação e de saneamento básico. O segundo caminho é o desenvolvimento rural. O Brasil possui a maior biodiversidade do mundo, a maior quantidade de terras cultiváveis do mundo. Precisamos intensificar um novo ciclo de desenvolvimento rural, pois as cidades não têm mais condições de criar oportunidades de trabalho decente para todos. Terceiro: é preciso estimular as tecnologias menos intensivas em capital e com impacto social relevante, em setores de produção de bens e serviços “não-comerciáveis”, que não sofrem a concorrência internacional, ou seja, em todos os ramos de serviços, na construção civil e nas obras públicas. Por último, deve-se estimular a criação de empregos indiretos e empreendimentos de pequeno porte, gerados pelas grandes empresas a seu montante e jusante.

OI - Como uma sociedade se articula para o desenvolvimento sustentável?

IS - A articulação dos espaços é o primeiro desafio. O desenvolvimento requer que a sociedade seja capaz de articular os diversos espaços desse processo, nos planos micro-micro, micro, meso e macro. Em seguida, deve articular os três grandes objetivos: social, ambiental e econômico. Em terceiro lugar, deve gerar parcerias, pois a economia que se desenha para as próximas décadas será inevitavelmente público-privada. O mercado continuará a ter papel importante, mas não a exclusividade do direcionamento econômico. Estado, trabalhadores, empresários e sociedade civil organizada estarãenvolvidas de forma contínua em negociações quadripartites. Em quarto e último lugar, é necessário alimentar o desenvolvimento sustentável com as tecnologias apropriadas. Neste contexto, destaco as biotecnologias e a informática, necessária para difundir as tecnologias apropriadas.

OI - O que falta ao Brasil para melhorar a economia e as condições sociais no meio rural?

IS - O país precisa de mais imaginação para organizar o acesso à terra. Reforma agrária é a soma de acesso à terra mais acompanhamento extremamente forte que permita ao acampamento recém-instalado tornar-se, com o tempo, uma vila agroindustrial. Além disso, a reforma agrária não é o único meio para o acesso à terra. Precisamos tentar outras experiências, como o comodato e a efetiva aplicação do Imposto Territorial Rural progressivo sobre terras não-utilizadas. Precisamos intensificar o uso de tecnologias de alto nível intensivas em mão-de-obra e ultrapassar o estágio de bipolarização do debate, que hoje contrapõe o empreendedorismo coletivo ao individual, o agronegócio à agricultura familiar. Não são coisas necessariamente conflitantes. Ao contrário, são coisas que se juntam e se complementam.

Edição 118 - Por uma nova educação rural
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