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Exemplo de força

No assentamento Margarida Alves, localizado no município de Ituberá (BA), destaca-se a história da agricultora e mãe de três filhos Maria Santos

8 de março de 2012

A porta da frente da casa quase nunca é aberta. Para entrar, só pelo quintal, pela parte dos fundos. O motivo? Todos sempre chegam com os pés cobertos de lama e dona Maria não gosta de ver o chão da sala sujo. “Você vem pelo quintal, tira o sapato e deixa na área. Fica tudo limpinho, minha filha”, explica, gentilmente, a matriarca da família Nascimento Santos.

Dos seus 62 anos de vida, 52 foram vividos como Maria. Durante os 10 primeiros, seu nome era Mariá. Ela explica: “Minha mãe só me registrou quando eu já tinha 10 anos. O moço do cartório não aceitou o nome, disse que lembrava a palavra ‘marear’, que a gente usa quando uma bijuteria estraga e fica feia. Tanto ele falou que o nome era ruim, que convenceu minha mãe a mudar. Acabou ficando Maria”.

O trauma nunca foi superado. Por isso, chamá-la de Mariá é ganhar pontos na relação. E foi essa a estratégia adotada para convencê-la a ser fotografada. Mas não antes de uma produção caprichada, da qual dona Maria fez questão: trocar de roupa, pentear os cabelos… Apenas uma ressalva: “Maquiagem, não. Nunca passei um batom na vida. Não gosto”.

Durante a sessão de fotos, muitos sorrisos e algumas histórias. Não faltam atividades para dona Maria – cuidar da horta, dos cachorros, dos gatos, do periquito e da casa. Entre cozinhar, lavar e passar, revela não ter muita paciência com a última atividade. “Às vezes, dou uma sacudida na roupa e coloco nas gavetas. Meu marido nem percebe que não passei”, confessa, deixando o espírito travesso da menina Mariá tomar a frente na conversa.

Dos três filhos, apenas o caçula Antônio mora com ela e com o marido no assentamento Margarida Alves, localizado no município de Ituberá, a 280 km de Salvador. É Antônio quem responde à pergunta sobre qual o prato mais saboroso feito por dona Maria. “Bife de panela”, grita da cozinha. No entanto, ela afirma que tem se especializado em outra receita: torta de palmito. A pupunha (fruto típico das florestas tropicais), de qualidade certificada, é cultivada pela família, associada à Cooperativa de Produtores de Palmito do Baixo Sul da Bahia, iniciativa apoiada pela Fundação Odebrecht.

Toda quinta-feira, a agricultora pega carona em uma velha Kombi para ir até o centro de Ituberá, onde se reúne com colegas e pratica atividades físicas na beira do dique, famoso ponto de encontro da cidade. “Não cansa tanta atividade?”, questionamos. “Quando a gente faz o que gosta, nada cansa”, responde, sorrindo, dona Maria, que já foi Mariá.

Quem conhece dona Maria logo percebe o quanto o “moço do cartório” estava errado. Nada é capaz de fazê-la marear.

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