Edição 134 – Duas décadas de uma decisão histórica
Em 1988, a Fundação Odebrecht anunciava o novo foco de sua atuação: o jovem e sua preparação para a vida.
1 de janeiro de 2008
Em 1988, a Fundação Odebrecht anunciava o novo foco de sua atuação: o jovem e sua preparação para a vida.
1 de janeiro de 2008
Texto: Vivian Barbosa
Foto: Eduardo Moody
Eles não paravam de sorrir. Durante a sessão de fotos para Odebrecht Informa e nos intervalos, Ricardo, Celeste e Juscelino eram pura descontração e alegria. O encontro no Edifício-sede da Organização Odebrecht, em Salvador, em 6 de novembro, para as fotografias, celebrou uma importante marca: há 20 anos, a Fundação Odebrecht elegeu o jovem como foco de sua atuação, assumindo a missão de educá-lo para a vida, promovendo o protagonismo juvenil.
Ricardo Correia tinha apenas 14 anos em 1994 quando foi o caçula de uma das primeiras turmas do Programa de Formação de Adolescentes Voluntários (PFAV), criado pela Fundação em Salvador. Ao concluir o programa, Ricardo estava de tal forma apaixonado pelo trabalho de que participava em um orfanato da cidade que decidiu criar seu próprio grupo de jovens – o Multi Ação. O tempo passou, seu espírito educador falou mais alto e “Ricardinho Voluntário”, como era mais conhecido, ingressou na faculdade de Letras. Entre 2002 e 2006, dedicou-se a um projeto social no litoral norte da Bahia. Hoje é professor de Língua Portuguesa e leciona em escolas de Salvador.
“Nas minhas turmas, sempre trabalho os conceitos que aprendi no Programa de Formação de Adolescentes Voluntários. Costumo explorar temas como cidadania,
ética e pluralidade cultural. Busco desenvolver nos meus alunos o potencial de jovem protagonista que sei que eles têm.”
O programa foi levado para a região do Baixo Sul da Bahia em 1999. Juscelino Macedo, então com 16 anos, ingressou em uma turma com outros 35 jovens, no município de Presidente Tancredo Neves, buscando um rumo para sua vida. “Eu vivia na zona rural, não tinha perspectiva. Iniciei a formação porque, como diz aquele ditado, para quem está no mato, qualquer lugar é caminho”, brinca. “Com o programa, descobri o meu potencial, comecei a me valorizar e perceber que era capaz. Ganhei autoconfiança”, acrescenta Juscelino.
Ele não parou mais. Participou de outros projetos implantados pela Fundação Odebrecht, como o Jovem Raiz, Jovem Empresário, Programa de Formação de Adolescentes Protagonistas e, por fim, ajudou a criar a Cooperativa de Produtores Rurais de Presidente Tancredo Neves (Coopatan), que é apoiada pela Fundação por meio do Programa DIS Baixo Sul. Atualmente, Juscelino trabalha na prefeitura de seu município como chefe de tributos. “Tudo o que sou, agradeço à Fundação. Sempre busquei base naquilo que aprendi na teoria, nos programas, e na prática, com a cooperativa. Enquanto membro do poder público, posso dizer que a Fundação Odebrecht é uma grande parceira do município”, afirma.
Juscelino é um velho amigo de Maria Celeste Pereira, 24 anos, e garante que ela carrega o mesmo brilho no olhar de sete anos atrás, quando foi sua colega no programa Jovem Raiz. De onde vem tanta energia? Celeste conta que, ao participar desse programa, percebeu que sonho que não se busca não passa de sonho. “Nos encontros, falávamos de motivação e força de vontade. Esse conhecimento não se encontra em uma sala de aula comum. As pessoas me ouviam. Foi quando decidi que iria enfrentar todas as barreiras em nome dos meus ideais.”
Não foi fácil. Celeste saiu da casa dos pais, na zona rural, para cursar uma faculdade, que concluiu como aluna bolsista. Trabalhou na Coopatan e também como professora. Hoje, ela é pedagoga e coordenadora da unidade de Presidente Tancredo Neves do Instituto Direito e Cidadania, projeto integrado ao DIS Baixo Sul. “Tudo que vivi foi fundamental para o desenvolvimento da minha capacidade de liderança. Conheci a mim mesma e passei a ter uma consciência social. Acredito que isso é ser um jovem protagonista. Saber onde se quer chegar e como chegar, intervindo para mudar a realidade e tendo compromisso com as futuras gerações.”
Pioneirismo
Entender o jovem como solução e não como problema. É assim que Maria Adenil Vieira, Diretora do Instituto Aliança, define o novo olhar sobre o adolescente a partir de 1988. Adenil, que foi gerente de projetos da Fundação Odebrecht por 12 anos, conta que a mudança de foco foi resultado de um movimento desencadeado por diversos atores e organizações sociais quando pesquisas revelaram que o Brasil viveria um fenômeno chamado “Onda Jovem” entre os anos de 2005 e 2025: a população entre 15 e 24 anos seria a maioria no Brasil. “O então presidente da Fundação, Bruno Silveira, e o educador Antonio Carlos Gomes da Costa perceberam que precisávamos nos organizar para aproveitar esse presente demográfico. Mais do que isso, os jovens tinham de estar prontos para o novo desafio. Começamos a pensar qual deveria ser o itinerário de formação para o que chamamos de protagonismo juvenil”, relembra. Segundo Adenil, o jovem precisaria estar preparado para uma atuação competente, solidária e responsável. Isso resultou na criação de diversos programas voltados para melhoria da qualidade nas áreas de educação, trabalho, saúde sexual e reprodutiva, cidadania e voluntariado.
“Os primeiros 12 anos de trabalho da Fundação Odebrecht com o jovem propiciaram a construção de um itinerário formativo que hoje é patrimônio do terceiro setor e tem como base os quatro pilares da educação”, continua Adenil. Divulgados em 1996, no relatório para a Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) coordenado pelo economista Jacques Delors, esses pilares são o aprender a ser, a conviver, a fazer e a conhecer. Por meio dessas competências, o jovem reconhece seu potencial e aprende a conviver em grupo de forma sinérgica, realizando-se pelo trabalho, acessando novas informações e interagindo com elas.
Adenil é co-autora do livro Protagonismo Juvenil, escrito em conjunto com Antonio Carlos Gomes da Costa e lançado em 2000. A obra, que traz a sistematização dessa prática, é um manual para os educadores que desejam ser parceiros no processo de formação da juventude brasileira e propõe uma nova maneira de ver, entender e agir em relação ao jovem. O educador assume a função de orientador, estimulando-o a encontrar seu caminho. “Em 1988, quando a Fundação optou por privilegiar o jovem, poucas instituições tinham esse foco. Hoje, pesquisas realizadas pelo Gife (Grupo de Institutos, Fundações e Empresas) mostram que a juventude é um dos públicos prioritários dos seus associados. A Fundação Odebrecht foi pioneira em termos de eleição do público e na metodologia utilizada”, afirma Adenil.
Antonio Carlos Gomes da Costa é enfático: segundo ele, o protagonismo juvenil é um caminho sem volta. “As mudanças trazidas pelo fim da Guerra Fria, a globalização, a era do conhecimento e a pós-industrialização tendem a levar cada ser humano a empresariar o seu próprio potencial. A vida exigirá das pessoas cada vez mais iniciativa, criatividade, capacidade de analisar situações e tomar decisões. Isso faz do protagonismo uma necessidade cada vez mais básica para o nosso tempo.”
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