Notas para Imprensa

A nova mulher do campo

Conheça exemplos de mulheres que estão apostando no empreendedorismo e assumindo cargos de liderança na zona rural

6 de março de 2015

Quando se trata de empreender, o desafio é grande tanto para homens quanto para mulheres. Esse desafio se torna ainda maior quando falamos de empreender na zona rural. O forte tradicionalismo presente no campo, e o preconceito que enfrenta a mulher que deseja abandonar a vida doméstica, tornam este cenário ainda mais difícil para aquelas que seguem por este caminho.

Mesmo com todos esses obstáculos, mulheres de lugares tradicionalmente rurais estão conseguindo romper esta barreira. Na região do Mosaico de áreas de Proteção Ambiental (APAs) do Baixo Sul da Bahia, área que compreende 11 municípios com baixo índice de Desenvolvimento Humano, uma experiência inovadora tem incentivado e propiciado essa mudança. O PDCIS – Programa de Desenvolvimento e Crescimento Integrado com Sustentabilidade une esforços dos Governos Federal, Estadual e Municipal, da iniciativa privada, da sociedade civil organizada e da Fundação Odebrecht e tem contribuído para que mulheres como Ednalva Lima, 48 anos, deixem a rotina de dona de casa para assumir novos papéis. Em 2012, ela se tornou presidente da Cooperativa dos Produtores Rurais de Presidente Tancredo Neves (Coopatan), localizada no município de mesmo nome.

Para promover o desenvolvimento produtivo da família no campo, a estratégia do PDCIS é fomentar simultaneamente os Quatro Capitais: Humano – educação contextualizada (formação profissional-técnica adaptada à realidade do campo), Produtivo – geração de trabalho e renda (incentivo ao cooperativismo), Social – construção de uma sociedade mais justa e igualitária (valorização da cidadania) e Ambiental – conservação ambiental (garante às futuras gerações o acesso sustentável aos recursos naturais). As ações do PDCIS privilegiam o jovem e sua interação com a família, transformando a realidade de comunidades da zona rural. O reflexo desta interação é a propagação de informações sobre novas ideias e possibilidades. Foi justamente isto o que aconteceu com Ednalva, que conheceu a cooperativa em 2005, por intermédio da filha Luciana – que na época estudava na Casa Familiar Rural de Presidente Tancredo Neves que, assim como a Coopatan, integra o Pacto de Governança do PDCIS – e logo se tornou uma cooperada.

Na época, além de cuidar da casa e dos filhos, Ednalva também trabalhava no cultivo da sua propriedade rural. “Após um tempo como cooperada vi quanto minha vida melhorou e, em 2009, decidi que queria me envolver mais na cooperativa para ajudar minha comunidade a melhorar de vida. Então passei a fazer parte do conselho e, em 2012, quando a então presidente precisou se afastar da Cooperativa, assumi o cargo temporariamente. No final do ano foi realizada uma nova eleição para o cargo e fui eleita.”

Desde então, junto com sua equipe, Ednalva tem obtido resultados surpreendentes. “Fechamos 2012 com uma pequena sobra. No ano seguinte tivemos lucro e em 2014 também. Com este dinheiro compramos dois caminhões e fizemos o leasing de outros veículos. Além disso, conseguimos uma parceria com o BNDES para a construção de uma nova fábrica de farinha, uma das mais modernas de toda a região Nordeste. Com isso, conseguiremos aumentar a produção de farinha de mandioca e, assim, nosso lucro também será maior.”

Atualmente, a rotina de trabalho no campo ainda continua. “Trabalho na cooperativa de segunda a sexta das 8h às 17h. Quando saio, vou direto para a roça, onde dois dos meus filhos trabalham junto com um colaborador. Fico lá até umas 20h. Não posso deixar de supervisionar o trabalho”, conta Ednalva, que nos finais de semana também passa algumas horas nas suas terras.

As mulheres no campo buscam cada vez mais uma participação especializada. Nas Casas Familiares – escolas que empregam a Pedagogia da Alternância, em que os jovens passam uma semana em regime de internato, com aulas na sala e no campo, e duas semanas em suas propriedades, aplicando os novos conhecimentos, sob o acompanhamento e a orientação de monitores especializados.

Itamara Santos, de apenas 19 anos, é uma dessas jovens. Nessa unidade de ensino, cursa o Nível Médio integrado ao Técnico em Agropecuária, onde aprende sobre técnicas de uso de solo, administração rural e diversos cultivos. Ela vive na comunidade Jussara, em Teolândia (BA), e seu sonho é tornar-se uma das maiores produtoras de frutas do Baixo Sul da Bahia. Para aplicar os conhecimentos, cultiva seis hectares de banana, mandioca e aipim na propriedade da família – que ao todo tem 15 hectares. Toda a sua produção é comercializada com o apoio da Coopatan, da qual é associada. “Isso contribui com a geração de renda que, no futuro, irá garantir minha sustentabilidade no campo”. Assim que começar a ter retorno do investimento, seu faturamento mensal deverá alcançar R$ 3 mil. Itamara não pensa em se desenvolver sozinha e compartilha com a comunidade os seus aprendizados. “A troca de experiências acontece por meio dos seminários rurais, palestras e dias de campo incentivados pela Casa Familiar”, afirma.

Além de mulheres empreendedoras, a zona rural vem produzindo também uma nova geração de líderes. Celeste Pereira, uma jovem de 31 anos, é Diretora Executiva do Instituto Direito e Cidadania (IDC), instituição também localizada no Baixo Sul da Bahia e que integra o PDCIS. Ela começou seu desenvolvimento profissional participando do Programa Direito e Cidadania, em 2001, no qual era educadora social, fazia mobilização social e discutia questões de politicas públicas, cidadania e direitos humanos com a população local. “A experiência me inspirou a fazer faculdade de Pedagogia. Consegui uma bolsa de estudos e em 2004 entrei como estagiária no IDC”, conta. Mesmo antes de se formar em 2006, já havia sido promovida a Coordenadora da unidade de Presidente Tancredo Neves – atualmente o IDC possui mais três unidades nos municípios de Valença, Camamu e Nilo Peçanha.

Celeste, que possui pós-graduação em Direitos Humanos de Crianças e Adolescentes, e há sete anos ocupa o cargo de direção no instituto, diz que apesar de ter conquistado muitos de seus objetivos, ainda possui diversas metas para alcançar. “Planejo estruturar uma equipe multidisciplinar, elaborar projetos e construir uma sede para o IDC. Na vida pessoal, desejo fazer mestrado na área de cidadania e direitos humanos e ter um filho. Se não tivesse me envolvido nos projetos do PDCIS não teria chegado até aqui”.

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