Conheça a história de Ana Mirela, jovem agricultora que fez da educação um caminho de crescimento e transformação comunitária

Ana Mirela Silva da Conceição acreditava que, para garantir um bom futuro, trabalhar com a agricultura não era uma opção.  “Antes da Casa Familiar, eu era incentivada a buscar caminhos longe da roça. Hoje é o oposto: meus pais me encorajam a ser dona do meu próprio negócio rural”, conta a jovem de 19 anos, moradora do município de Taperoá (BA).

A sua formação na Casa Familiar Agroflorestal do Baixo Sul da Bahia (CFAF), instituição parceira da Fundação Norberto Odebrecht, foi fundamental para essa perspectiva ser ampliada. O que aprendia na escola, levava para casa, e, aos poucos, aplicava novos conhecimentos junto à família. Algo que Ana Mirela traz como exemplo é a baliza – método para demarcação do solo que ajuda a definir áreas para o plantio e a organizar as culturas. “Meu pai achava que era algo muito distante da gente, que só gente rica fazia. Hoje, fazemos baliza em todas as roças que cultivamos”, diz.

A instituição também foi a responsável por instalar em sua propriedade uma fossa séptica ecológica e um sistema de captação e armazenamento de água. “Nossa realidade mudou completamente”, relata. Essa nova estrutura contrasta com a situação anterior: Ana Mirela e os pais consumiam água sem tratamento diretamente da cisterna, e, por falta de acesso ao saneamento básico, despejavam o esgoto a céu aberto – hábitos que apresentavam grandes riscos para a saúde deles e para o meio ambiente.  

Mas não foi apenas o entorno que mudou. Em sua jornada estudantil, a jovem também vivenciou um processo de descoberta, identificando, em si mesma, novos traços e desejos, um em particular muito forte: o de compartilhar conhecimentos e incentivar o crescimento de outros jovens. Ao longo dos três anos em que estudou na CFAF, a nova Técnica em Florestas realizou 16 ações multiplicadoras, priorizando como público as crianças de sua região, uma estratégia para influenciar positivamente as próximas gerações.

“Levei elas para conhecerem a hidroponia. Ficaram fascinadas com a minha explicação sobre como germinar sementes e como funcionavam as espumas fenólicas”, conta. Com o apoio dos pequenos, também criou hortinhas a partir da reutilização de garrafas PET e botijões de gás, e porta-lápis com rolos de papel higiênico e tecidos que não eram mais usados.

“Acredito muito no poder de multiplicar conhecimentos, principalmente sendo mulher. Na minha comunidade, ainda há uma grande ausência feminina nessa área. Isso me dá ainda mais força de vontade”, reflete Ana. Dona de uma postura autônoma e proativa, a jovem pode até contar com a força braçal dos homens da família, mas é ela a grande responsável por sua roça. “Eles executam o que eu oriento. Toda o planejamento e organizações são meus”, conta.

Quando olha para trás, Ana Mirela percebe o quanto evoluiu, e reconhece a CFAF como a principal influência da trajetória que hoje trilha. Com orgulho, afirma: é produtora sustentável e independente financeiramente. “Consegui ampliar minha atuação e gerar renda sendo uma mulher na zona rural. Mesmo depois de me formar, continuo conectada à CFAF. Aonde eu vou, levo a escola comigo”, diz.

E os voos que ela almeja agora são altos. Recém-aprovada no curso de Engenharia Agronômica em Juazeiro (BA), também foi selecionada para representar o Baixo Sul da Bahia no PROT’AIR, uma iniciativa do Estado em parceria com a França para promover o turismo sustentável em áreas protegidas. “Mais um passo que só foi possível porque alguém acreditou em mim, e porque eu acreditei que era possível crescer no campo”, conclui.