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“De um grupo pequeno de clientes para um cliente comunitário”: Joaquim Cardoso relembra a criação do PDCIS no Baixo Sul da Bahia

Fundada em 2001, a Organização de Conservação da Terra (OCT) é uma Organização da Sociedade Civil que atua na Área […]

11 de dezembro de 2025

Fundada em 2001, a Organização de Conservação da Terra (OCT) é uma Organização da Sociedade Civil que atua na Área de Proteção Ambiental (APA) do Pratigi, no Baixo Sul da Bahia. A instituição oferece assistência técnica a agricultores familiares da região, apoio ao planejamento e à regularização de propriedades, além de iniciativas de reflorestamento, restauração de nascentes, educação ambiental e disseminação de tecnologias sustentáveis.

A criação da OCT foi inspirada pelo Programa de Desenvolvimento e Crescimento Integrado com Sustentabilidade (PDCIS), concebido por Norberto Odebrecht em 2003 e implementado pela Fundação que leva seu nome. O PDCIS se consolidou como uma tecnologia social voltada ao fortalecimento da agricultura familiar, respeitando a vocação das comunidades, promovendo inclusão produtiva e impulsionando o desenvolvimento econômico em harmonia com o meio ambiente. Desde então, a OCT se tornou uma parceira estratégica da Fundação Norberto Odebrecht (FNO) para viabilizar, monitorar e aprofundar os resultados do programa no território.

Hoje, Joaquim Cardoso, Diretor-executivo da OCT, que também já atuou como Assessor Especial da Presidência na FNO, compartilha suas memórias e percepções sobre a visão de Dr. Norberto e o surgimento do PDCIS no Baixo Sul da Bahia, trajetória que acompanhou desde os primeiros passos.

Fundação Norberto Odebrecht: Como aconteceu seu primeiro contato com Dr. Norberto, e o que aproximou vocês?

Joaquim Cardoso: Minha primeira vivência com Dr. Norberto se deu na década de 1980, quando trabalhava como Secretário Geral no Ministério da Agricultura. Em uma das reuniões, Dr. Norberto Odebrecht estava presente, disposto a colaborar com o governo em um projeto de modernização da agricultura, que tinha como foco o aumento contínuo de sua produtividade. Desde então, nunca paramos de conversar e refletir sobre essas inquietudes. Até que, em 2006, ele me convidou a integrar a Fundação, para que pudéssemos vivenciar e praticar essas ações no dia a dia. Dediquei-me, então, na elaboração do Plano de Desenvolvimento e Crescimento Integrado da APA do Pratigi, que foi formulado, programado e implantado graças à visão de Drº Norberto, um homem à frente do seu tempo.

Fundação Norberto Odebrecht: Ao longo dos anos, você acompanhou de perto as iniciativas de Dr. Norberto no Baixo Sul da Bahia. Como descreveria essa atuação e sua evolução no território?

Joaquim Cardoso: Norberto teve três fases distintas no Baixo Sul da Bahia. A primeira foi a fase empresarial, focada na construção, como obras em Valença e Ituberá. Nessa fase, ele atuava como empresário. Em seguida, Norberto entrou na fase de ser um produtor agrícola. Surgiu nele a ideia de neutralizar as diferenças econômicas da região, marcada por uma grande disparidade entre muitos pobres e poucos ricos. Ele acreditava que a agricultura poderia ser a solução para isso, então criou a Fazenda Contendas, onde montou uma estrutura de parceria que foi uma revolução. A ideia era trabalhar com os produtores locais, inserindo-os nas cadeias produtivas e mudando a forma de contribuição da empresa. Depois, Norberto refletiu sobre sua evolução como empresário. Antes, como construtor, ele realizava obras como portos, apartamentos, casas e estradas, tendo uma relação direta com clientes específicos, identificados e de um pequeno grupo. Mas, quando começou a trabalhar na agricultura, percebeu que não tinha mais apenas clientes, mas sim uma responsabilidade socioambiental. Norberto passou de um grupo pequeno de clientes para um “cliente comunitário”. Ele gostava de afirmar que “todos são meus clientes”. Já não era mais o exportador de seringas ou cacau, mas sim todos os produtores. Ele enfatizava que todos precisavam estar incluídos no PDCIS, porque, se houvesse exclusão, o programa não seria sustentável.

Fundação Norberto Odebrecht: De que forma a concepção do PDCIS foi ganhando concretude e se estruturando na região?

Joaquim Cardoso: Nas reuniões, Norberto discutia intensamente os princípios, conceitos e critérios que estávamos criando para esta versão ambiental da Tecnologia Empresarial Odebrecht (TEO), o PDCIS. Ele destacava que não podia trabalhar com teorias abstratas, mas sim com fatos concretos e resultados mensuráveis. Para ele, era essencial investir em ações que pudessem ser monitoradas, valorizadas e divulgadas, sempre com capacidade de adaptação. A primeira necessidade identificada por Norberto era a de ter um espaço onde o trabalho pudesse ser monitorado e onde os resultados pudessem ser medidos. Foi daí que surgiu o foco nas Áreas de Proteção Ambiental (APAs), como a APA do Pratigi. Essa área era dividida em duas partes, uma ao sul e outra ao norte, funcionando como um modelo para as APAs do Baixo Sul da Bahia. A ideia era usar essas áreas para a obtenção e avaliação contínua dos resultados. Em segundo lugar, Norberto definiu que os “clientes” do programa seriam as famílias dos produtores rurais, considerando a unidade família como o núcleo central. Ele enfatizava que, ao trabalhar com as unidades familiares, se garantia a inclusão de toda a comunidade, evitando a exclusão social. O terceiro ponto fundamental era a definição de sustentabilidade. Nós levamos cerca de 8 anos discutindo sobre um conceito de sustentabilidade que pudesse ser deglutível por todos. Eu escrevi esse conceito, que é algo que me traz muito orgulho e muita segurança sobre a definição que cheguei: a sustentabilidade como um lugar em que estão em equilíbrio o solo, a água, a flora, a fauna, os seres humanos e seus negócios.

Fundação Norberto Odebrecht:  Na sua visão, qual foi o impulso central que motivou Dr. Norberto a criar o PDCIS?

Joaquim Cardoso: Norberto dizia que tudo o que estávamos discutindo só começaria a dar certo quando o produtor aumentasse seu rendimento. “Enquanto ele não aumentar sua renda, estamos apenas sonhando, falando, discutindo e jogando palavras ao vento”, ele afirmava. Era essencial garantir que o produtor, muitas vezes em situação de pobreza, fosse assistido de maneira adequada. A ideia principal era trabalhar para aumentar a produtividade. Para isso, era necessário implementar a educação produtiva, pois não há conhecimento sustentável sem educação. Ele explicava que, se o produtor não conseguisse aumentar sua receita e continuasse gastando mais do que produzia, ele não conseguiria sustentar, progredir ou transferir o que havia aprendido.

Fundação Norberto Odebrecht: Como o programa conseguiu integrar produtividade agrícola e responsabilidade ambiental de forma prática?

Joaquim Cardoso: Todo produtor que é incluído em nosso programa passa a ter consciência da importância de respeitar o meio ambiente, isso é feito de forma deliberada e através de um pacto firmado. A responsabilidade socioambiental é algo que chega tanto para os produtores quanto para a comunidade. Na prática do aumento da produtividade, o produtor necessariamente se compromete a respeitar o meio ambiente. Isso inclui a forma de implantar, podar, transportar e todas as outras práticas agrícolas.

Fundação Norberto Odebrecht: E qual considera ser o principal diferencial do PDCIS enquanto programa social?

Joaquim Cardoso: Nós trabalhamos com dois conceitos importantes: a emancipação e a institucionalidade. Se não houvesse compromisso com a emancipação, estaríamos criando dependência, e, ao criar dependência, estaríamos agravando a situação existente. A institucionalidade, por sua vez, referia-se à necessidade de que todos os poderes constituídos, juntamente com toda a comunidade, compreendessem, adotassem e respeitassem o que estava sendo proposto com o PDCIS.

A governança participativa é uma marca do PDCIS, que articula sociedade civil organizada, poder público e iniciativa privada em uma rede colaborativa orientada ao desenvolvimento territorial sustentável. Ao longo de 22 anos, o programa já impactou a vida de mais de 700 mil pessoas no Brasil e, recentemente, alcançou seu primeiro movimento de internacionalização em Angola, um passo significativo no ano em que a Fundação Norberto Odebrecht celebra 60 anos de história.

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